A comunidade do Lago Norte já deve ter percebido alguns varais de lixo pendurados pelo bairro, com algumas frases poéticas. Mas o que significa isso? Trata-se do Projeto Lixo Cultural Sonoro, criado pelo morador Jonas Banhos, servidor público e que, voluntariamente, atua como arte-educador em comunidades ribeirinhas da Amazônia. A ação tem como objetivo criar uma consciência ambiental, por meio da arte, e sensibilizar as pessoas que desrespeitam a mãe natureza.
O morador aproveita a caminhada matinal para colocar em prática o projeto. Com uma porção de criatividade, luvas, fio de algodão, pincel e tinta, o idealizador ergue o lixo que encontra pelo caminho e, sempre que possível, escreve uma mensagem no próprio resíduo. “Clamo para que as pessoas joguem o lixo na lixeira e não na natureza. Também costumo levar um folder que trata da importância de cada um cuidar do seu lixo, por uma questão de saúde coletiva, diz Jonas.
A idéia nasceu da indignação de Jonas com alguns moradores, visitantes ou trabalhadores que desrespeitam o bairro e enchem as áreas verdes de lixo. “Apesar da abundância gratuita da mãe natureza, eles não têm a sensibilidade para perceber tanta riqueza oferecida, gratuitamente, para todos nós”, ressalta. Então, foi no dia 7 de setembro de 2011, que o morador montou o primeiro varal no Parque das Garças, localizado no final da Península Norte, e nomeou a atividade de Lixo Cultural Sonoro.
“Ao coletar parte do lixo de dentro do parque e começar a pendurá-lo no varal, montado entre duas árvores, percebi o barulho que fazia quando um lixo batia em outro. Aquilo que estava escondido entre arbustos, na beira ou dentro do lago, passa a ser visto e escutado pelos que frequentam o local. Assim, deixa de ser lixo e passa a ser arte, que provoca alguma sensação ou reação nos que vêem o varal ou escutam o barulho que dele emana”, afirma Jonas.
A atitude do servidor público já chamou a atenção de alguns moradores que, agora, também ajudam o projeto a caminhar. É o caso da moradora da QL 09, Terlusia Albuquerque de Souza, funcionária publica e empresária. Segundo ela, ao visitar o Parque das Garças pela primeira vez, reparou nos variais com lixos pendurados. “Conheci o Jonas que explicou um pouco sobre o trabalho dele. Hoje, ajudo a colocar mais lixo nos varais. Tenho até um cordão de barbante no carro. Depois que conheci o projeto, a minha visão ecológica mudou. Agora, também separo o lixo em casa”, ressalta a moradora.
Vale lembrar que os varais ficam expostos temporariamente. A maioria dos lixos é recolhida pelo Serviço de Limpeza Urbana – SLU. Quando isso não ocorre, uma vez por mês, Jonas mobiliza alguns amigos para retirar os varais mais antigos. “A idéia dos variais é pendurar o lixo até ele secar. Eles nascem para causar uma reflexão e clamam por uma ação urgente: que a primeira pessoa tocada retire o varal e o jogue na lixeira mais próxima”, finaliza o idealizador do projeto.
Por Fernanda Angelo
fonte http://jornaldolagonorte.com.br/destaques/lixo-cultural-sonoro/